Uma voz no rádio anuncia que os Estados Unidos jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. A Segunda Guerra continua no Pacífico, mas terminou na Europa. Em um vilarejo na Hungria, dois judeus ortodoxos chegam bem no dia do casamento do filho do tabelião local. A dupla traz consigo malas misteriosas e a presença dos sobreviventes do Holocausto, em vez de alegria, gera temor e desconfiança.
Os motivos? Ah.. esses o diretor Ferenc Török revela em doses bem calibradas, ao acompanhar as ações de poucos, porém valiosos, personagens. E o que se tem em 1945 é um delicado tratado sobre a culpa e o remorso, mas também sobre a traição, a ambição e a crueldade.
Török escreveu o roteiro em parceria com Gábor T. Szántó, que adapta um conto de sua autoria, Hazatéré (Homecoming, em português, De Volta Para Casa). A fotografia em preto e branco acentua o realismo e de certa forma concentra a força nos sentimentos, sem maiores subterfúgios visuais.
O enredo tem uma cadência significativa. Os lentos passos dos judeus pelas ruas, o olhar cabisbaixo e o silêncio fazem contraponto com os ânimos acirrados, as discussões acaloradas e os atos impulsivos do tabelião e de um grupo específico de moradores, que têm contas a acertar com o passado.
Há soldados russos pelo vilarejo, resquício da ocupação, sinal de uma liberdade ainda frágil e de um novo conflito, não mais bélico, e sim moral.
Imperdível.