A maior cantora de ópera do século 20 – até agora insuperável -, Maria Callas documenta a si mesma na preciosa coleção de imagens resgatadas e organizadas pelo cineasta estreante Tom Volf.
Tanto em entrevistas quanto na narração em off de cartas que escreveu, ela fala da infância roubada pela mãe ambiciosa e severa, que abreviou seus estudos e lhe imputou a carreira de cantora em um movimento que prefere se referir como destino.
Sequências colorizadas de seus espetáculos dão uma mostra do talento sem tamanho, e o cineasta mantém as canções na íntegra. É de arrepiar.
Para os leigos ou desinteressados em ópera, a atribulada vida pessoal é uma atração à parte. Filha de imigrantes gregos, Maria é legítima nova-iorquina do Brooklyn.
A fama de diva tempestuosa, que cancelava apresentações em andamento e fazia desafetos nos bastidores, recebe uma justificativa muito humana da estrela que viveu sob a égide da tragédia.
Embora lamentasse não ter tido o que chamava de “uma vida normal como mãe de família”, a soprano debitou o desvio de planos também ao destino. Na hora de se separar do marido e empresário Giovanni Battista Meneghini, porém, se mostrou à frente de seu tempo, já que na época o divórcio era proibido.
O tórrido romance com o magnata grego Aristóteles Onassis (foto acima), e o posterior abandono quando ele a trocou por Jackie Kennedy, também estão destacados em cenas da intimidade de Maria. A diva vivia cercada de gente, mas era uma celebridade solitária. Quando a voz começou a decair, a depressão veio junto.
La Callas completaria 95 anos em 2018, não tivesse um fulminante enfarte a vitimado aos 53 anos, em 1977.